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Congresso Brasileiro de Microbiologia 2023
Resumo: 979-2

979-2

PRIMEIRO RELATO DE FASCIÍTE NECROTIZANTE POR ACINETOBACTER BAUMANNII PAN-RESISTENTE EM CÃO

Autores:
Ricardo Antonio Pilegi Sfaciotte (UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina) ; Felipe Carniel (UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina) ; David Germano Gonçalves Schwarz (UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina) ; Sandra Davi Traverso (UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina) ; Paulo Eduardo Ferian (UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina) ; Sandra Maria Ferraz (UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina)

Resumo:
A fasciíte necrotizante é uma dermatopatia rara na medicina veterinária e sua incidência ainda não foi bem estabelecida. A lesão é rapidamente progressiva e geralmente culmina em sepse e óbito dos pacientes. O Acinetobacter baumannii é uma bactéria que vem ganhando destaque nos últimos anos devido a sua alta capacidade de resistência antimicrobiana. Diante disso, este trabalho teve como objetivo relatar o primeiro caso de fasciíte necrotizante por A. baumanni pan-resistente em um cão. Um canino, macho, Beagle, de 11 anos foi atendido no Hospital Veterinário da UDESC, com quadro de claudicação e edema de membro torácico esquerdo ocasionado por picada de cobra, que se estendeu por todo o membro e face do animal. A pele apresentou necrose com áreas de drenagem de conteúdo sanguinolento. O paciente foi medicado com anti-inflamatório e soro polivalente. Com a progressão da doença, a necrose foi gerando desprendimento da pele do rosto, pescoço e região peitoral. Foi realizada coleta para hemocultura e cultura bacteriológica de lesões cutâneas, as quais foram positivas para Acinetobacter baumannii produtor de beta-lactamase de espectro estendido e carbapenemase, sendo resistente também a colistina e a todos antimicrobianos testados. A identificação bacteriana foi confirmada por MALDI-TOF. Estudos anteriores evidenciaram a presença de Acinetobacter na cavidade oral de algumas serpentes, podendo ser uma via de inoculação da bactéria e desenvolvimento da fasciíte necrotizante. O paciente evoluiu para sepse e depois foi a óbito. Foi realizado exame necroscópico e análise histopatológica. Na necropsia o paciente apresentou grandes áreas de ulceração com bordos hiperêmicos e exposição de fáscias musculares, compreendendo a região ventral de tórax e pescoço, submandibular, lateral da face, supraorbitária, seios frontais e região entre os olhos até o início do plano nasal. O subcutâneo exposto apresentava aspecto granular e áreas com fibrina e secreção purulenta, além de edema subcutâneo focalmente extenso em metacarpos dos membros torácicos e presença de sufusões entre as fáscias musculares no membro torácico esquerdo. Os pulmões apresentavam-se não-colabados, brilhantes e edemaciados e os rins com hemorragias petequiais na superfície capsular. Na histopatologia foi evidenciado edema acentuado difuso, com formação de trombos de fibrina no interior de vasos pulmonares. Presença de neutrófilos e macrófagos no interior de alguns vasos do encéfalo; infiltrado de macrófagos multifocal moderado nos rins. Na pele foi evidenciada necrose acentuada focalmente extensa, estendendo da derme até epiderme profunda, acompanhada de intensa infiltração de neutrófilos e exsudação fibrinosa com debris celulares. A facilidade de separação ou exposição da fáscia em relação aos outros tecidos é um achado importante da fasciíte necrotizante, onde há presença de líquido exsudativo nos espaços subcutâneos da área afetada, conforme apresentado neste caso. Foram realizadas coletas de amostras de fígado, pulmão, rins e sistema nervoso central para cultura bacteriana que confirmaram a presença de A. baumannii em todas as amostras. Esse é o primeiro relato de fasciíte necrotizante causada por um A. baumannii pan-resistente em cães, destacando a importância desse patógeno emergente na medicina veterinária e a inclusão da fasciíte necrotizante como diagnóstico diferencial em lesões cutâneas necróticas de rápida progressão, envolvimento cutâneo profundo e de fáscia superficial.

Palavras-chave:
 carbapenemase, ESBL, multirresistente, dermatopatia